O coração podre do império, apodrece!

Trump ladrão

O coração podre do império, apodrece!

  • Categoria do post:Barbárie / Política
  • Tempo de leitura:5 minutos de leitura

19/07/2025

Ora, ora, quem diria? Ou melhor: quem ousaria dizer que Donald Trump, o messias dos milionários, converteria a Presidência dos Estados Unidos numa máquina silenciosa de enriquecimento privado, operando com a frieza e a audácia de um criminoso de guerra?
Quem poderia imaginar que o criminoso sentenciado e apenado em 454 milhões de dólares por fraude financeira usaria o Salão Oval como caverna de Ali Babá?
É inacreditável. No entanto, a verdade é que o fascista alaranjado, aspirante ao trono imperial do globo, utiliza sua influência, seus decretos e sua rede social como instrumentos meticulosos para manipular mercados e engordar os bolsos de um círculo sombrio de aliados, operadores e parasitas de alto coturno. É o que a imprensa econômica estadunidense tem revelado com insistência.

A mecânica é simples, embora disfarçada sob o verniz da legalidade institucional. Primeiro, Trump anuncia — sempre por meio de sua plataforma privada, a Truth Social, e nunca pelos canais oficiais — alguma medida econômica de impacto global: tarifas, sanções, cancelamentos súbitos, promessas de trégua. O padrão, denunciado por jornalistas especializados, segue um único e rígido ritual. Minutos antes do anúncio, vultosas apostas invadem os mercados de câmbio, ações e derivativos, como se alguém soubesse exatamente o que viria, e quando viria. São “coincidências” que obedecem a um cronograma de compra e venda pontualmente executado, com lucros colossais auferidos em questão de minutos.

O roteiro habitual foi exatamente o que ocorreu às 16h17 do dia 9 de julho, quando Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. O dólar disparou, como era previsível; afinal, esse é o comportamento esperado quando governos e corporações divulgam medidas de impacto. O que chama atenção, contudo, é o movimento ocorrido duas horas e meia antes: às 13h30, uma compra silenciosa de mais de uma dezena de bilhões de dólares foi realizada e revertida minutos após o anúncio. Especialistas estimam que a operação rendeu até 50% de lucro em poucas horas. Nada naquele dia indicava turbulência. Não havia justificativa econômica. Restou, portanto, a evidência de que alguém sabia e agiu com precisão, just in time.

Mas esse episódio está longe de ser um caso isolado. A mesma coreografia se repetiu nos anúncios de tarifas contra África do Sul, União Europeia, México e Canadá, todos precedidos por movimentações igualmente oportunas.

No dia 9 de abril, Trump postou: “It’s a great time to buy!!!”. Horas depois, suspendeu tarifas e fez a bolsa disparar. Bilionários celebraram com ele na Casa Branca. O Congresso, dominado por republicanos — atualmente reduzidos a uma horda de extremistas no estilo bolsonarista — silenciou. A SEC e o Departamento de Justiça, os dois órgãos aptos a investigar esse tipo de operação, encontravam-se domesticados, inteiramente submetidos ao controle de Trump. Com isso, todo o sistema passou a girar em torno de uma engrenagem obscura, onde poder e lucro dançam juntos na penumbra da impunidade.

A normalização desse comportamento não representa apenas um sintoma da falência ética do regime; representa sua necrose. A cada nova operação, com os mesmos sinais precursores e os mesmos rostos sorridentes nos bastidores, apodrece mais um naco da república estadunidense. Nunca foi uma democracia plena — sempre pertenceu aos ricos —, mas sustentava, ao menos até o advento do fascismo trumpista, a aparência de uma república federativa. O que os jornais revelam é estarrecedor: o fascismo financeiro não desfila com fardas, nem empunha bandeiras. Ele age nas sombras, infiltra-se nos mercados, opera por meio de ordens executivas, algoritmos cúmplices e instituições fiscalizadoras reduzidas ao silêncio.

A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, tenta, até agora sem êxito, acionar o poderoso Martin Act, que permite investigar fraudes financeiras sem a necessidade de comprovar intenção. Trata-se de uma ofensiva histórica, rara e perigosa. Mira o núcleo da engrenagem, buscando provas de que aliados de Trump operaram no mercado minutos antes de decisões políticas deliberadas. Mas até onde poderá ir? A SEC pode recusar-se a colaborar. O Departamento de Justiça pode sabotar o processo por dentro. A burocracia pode sufocar a investigação em silêncio. Ambas as instituições encontram-se, hoje, aparelhadas pelo trumpismo.

Trump governa como um autocrata financeiro. A questão não se limita à captura do Estado como empresa pessoal: trata-se de converter capital político em ativo especulativo. Suas palavras, e até mesmo sua hesitação, provocam choques imediatos nos mercados. E ele sabe disso. Usa essa capacidade não como estadista, mas como especulador-mor de uma cleptocracia digital, onde um post vale bilhões e uma mentira bem cronometrada rende mais do que qualquer política fiscal.

Há algo estruturalmente apodrecido quando a autoproclamada maior democracia do mundo permite que um homem, dono da própria plataforma de comunicação, investido de poder político e cercado por um aparato de lealdades viciadas, movimente bilhões sem prestar contas a ninguém. Se a letra fria da lei ainda não o enquadra como criminoso, então a batalha já foi perdida. O que está em jogo não é apenas se Trump violou normas de insider trading, mas se o poder presidencial pode ser utilizado como mecanismo de saque financeiro — e, sobretudo, se a democracia pode ser capturada por operadores protegidos por juristas cúmplices e instituições esvaziadas.

Quantos bilhões ainda serão desviados até que alguém chame as coisas pelo nome? Quantas vezes o mercado será manipulado antes que a república reaja? Quanto tempo falta para que esse golpe — sofisticado, digital, dissimulado — se torne norma de governo? Quantos países serão empobrecidos para pagarem essa conta? E, mais importante, quantas pessoas morrerão de fome para engordar as carteiras de investimentos do fascismo trumpista?

Talvez o problema já não seja mais Trump, e sim o sistema que se rendeu a ele. Se os Estados Unidos ainda pretendem falar de ética financeira no cenário global, precisarão, antes, enfrentar a criatura que pariram. Trump não é apenas um populista ressentido ou um narcisista errático. Ele representa o arquétipo do novo autoritarismo: aquele que governa por algoritmo, saqueia por decreto e se protege com o silêncio das instituições.

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