Disseram-me — um dia — que é obrigatório ter uma apresentação no blogue.
Do contrário — alertaram-me — corre-se o risco de ser confundido com uma fraude.
Ou — o que talvez seja mais trágico   com uma tentativa malfeita de anonimato.

Relutei.
Cedi relutante.
Poucas coisas me parecem tão desinteressantes quanto moi-même.

Feito o aviso de desencorajamento, passo à formalidade.
Chamo-me Edward Magro, sou brasileiro, paulista e, sim, tenho certidão de nascimento, RG, CPF e até CNH.
Nascido há muito, caminho sem pressa, devagar, deliberadamente lento, lentamente lento, rumo à completude do álbum cartorial a que todos nós, brasileiros, parecemos fadados pela burocracia: receber, já sem qualquer sorriso póstumo, como derradeiro carimbo do cartório, a mais inútil das credenciais — a certidão de óbito, solene em sua própria inutilidade.
Espero conseguir evitá-la com a mesma destreza com que evito qualquer coisa que traga a palavra network metida no meio.

Não há foto minha aqui — e não haverá.
Sou tímido demais para caber num retrato.

Vamos ao que importa — se é que ainda haja algo que realmente importe.
Não sou escritor, jornalista, editor, tampouco profissional das letras.
Não integro confrarias, grêmios, associações, tertúlias ou panelas.
Meu passaporte literário, se existisse, estaria vencido ou, mais provavelmente, em branco.

Fruto de uma união tecnicamente precária e literariamente desesperadora,
nasci da computação com a economia,
um cruzamento que elimina, desde o berço, qualquer inclinação à poesia.
A meu favor — como libelo — é sabido que o primeiro emprego de um economista costuma ser o extermínio da sua última célula humanista.
Daí a minha secura árida e seca.

Da minha biografia, dois fatos merecem nota:
sou Magro e sou espigoense.
Mais ainda: sou Magro espigoense.

Essa condição é rara.
Somos sete no planeta, sem nenhuma margem de erro.
Podem procurar.
Não encontrarão.

Magro, aqui, é mais do que um sobrenome:
é uma disposição suave do ser,
uma elegância sem intenção,
um jeito de escorregar pela vida com a delicadeza de uma rosa-trepadeira cujo perfume só se oferece a quem chega muito perto.
Ser Magro é uma joie de vivre.

Ser espigoense, por sua vez, é um adorno de luxo.
Um salvo-conduto que concede a todo Magro o privilégio de ser insuportavelmente Magro e, como se isso não bastasse, insuportável na lucidez com que maneja essa insuportabilidade.

Espigoense é o gentilício de quem nasceu no Espigão — um pequeno patrimônio cravado no fundão-oeste do Estado de São Paulo.
Não encontrou no mapa?
Basta localizar Presidente Prudente e mover levemente os olhos à esquerda.
Lá estará o Espigão, cidade-matriz da Grande Espigão, sede da Região Metropolitana do Espigão.
A depender de nossa paciência espigoense e, no melhor dos casos, Prudente nos serve — com sua boa vontade, ou sem ela — de subúrbio, de banlieue, un sobborgo.

Quanto ao que encontrará neste blogue, não prometo deleites; tampouco tragédias.
Apenas aquilo que eu precisava dizer,
com a certeza de que ninguém ouviria,
mas que, ainda assim, exigia, para a saúde das minhas vísceras,
saltar dos meus dedos,
de dentro para fora,
como paraquedas… sem paras e com todas as quedas possíveis.

Espero, tão somente, que algo dessas quedas lhe seja útil.
Afinal, ser utilitarista é apenas um dos muitos — e encantadores — vícios dos economistas.

O mais importante: agradeço pela visita.
E, sobretudo, por ter se interessado em ler estas coisas que eu precisava dizer.