Olhe para cima

Edward Magro | 19/08/2025 Algo de muito sério está acontecendo, e não estou certo de que todos estejam percebendo. Não por falta de indícios — eles se acumulam —, mas porque a atenção coletiva tem sido sequestrada, dia após dia, pelo teatro grotesco encenado pelo palhaço fascista de pele alaranjada. O enredo é elementar: distrair, confundir, provocar risos nervosos e, nesse intervalo, avançar projetos políticos de destruição. É a lógica do filme Não Olhe para Cima, paródia quase-vida-real do primeiro mandato de Trump, em que Meryl Streep, emulando Trump, exibia-se dizendo: “Não se preocupem com o meteoro, olhem para mim”.…

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O adeus de Lula a Mujica e o gesto que transcendeu a política

15/05/2025 Há despedidas que se dão no tempo. Outras, no espírito. A de Lula e Pepe Mujica foi das que se inscrevem na carne da história — mas também nas dobras mais íntimas da alma. Lula não alterou uma agenda internacional extremamente importante para “faturar” com a morte de um velho amigo, como já insinuam — com a previsibilidade de sempre — os de sempre. Estava em viagem quando soube do fim de Pepe, e a família do ex-presidente uruguaio — num gesto de rara grandeza e delicado afeto — decidiu adiar o enterro para que o brasileiro pudesse se…

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Mujica e o funeral que a imprensa quis escrever

14/05/2025 Morreu José "Pepe" Mujica. Morreu o homem de fala mansa e ideias incendiárias, de ternos surrados e moral reluzente; o camponês que presidiu um país sem jamais abandonar o campo. Morreu — e a imprensa brasileira, essa mesma que há décadas se apressa em colar etiquetas onde deveria haver perguntas, correu a batizar o corpo ainda morno com o rótulo mais funcional possível: “símbolo da esquerda”. E então desfilaram-se os obituários, em títulos uniformizados pela lógica do oligopólio, que diziam mais sobre os vivos que os redigiram do que sobre o morto que pretendiam homenagear. O Globo: "O presidente…

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Adeus, meu amado Pepe Mujica

13/05/2025 Em menos de um mês, o mundo — se ainda podemos chamá-lo assim, com alguma fé no seu significado — perdeu duas figuras que, em sua inteireza humana, alçaram-se àquilo que de melhor a humanidade já pôde oferecer a si mesma. Primeiro, o Papa Francisco, arauto de uma fé vivida como ternura e denúncia. Agora, José “Pepe” Mujica, o lavrador de ideias e afetos, o estadista improvável que nos ensinou a força política da simplicidade. Ambos, cada qual à sua maneira, encarnaram uma ética da humildade radical, um chamado incessante à fraternidade universal e à responsabilidade mútua entre os…

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