Tornozeleira com o mapa do inferno

Fux e a tornozeleira

Tornozeleira com o mapa do inferno

22/07/2025

Queria ter acordado hoje com o desejo manso de escrever uma crônica leve, alegre, divertida — dessas que me provocam riso enquanto escrevo, como quem descansa as ideias inspiradoras num jardim de palavras. No entanto, fui dormir ontem sob o peso da notícia amarga de que o ministro Luiz Fux tentara livrar a cara do miliciano genocida, esse verme rastejante que encarna o que há de mais abjeto na história social brasileira, figura que é, ao mesmo tempo, pai e filho da ruína moral e institucional contra a qual, com muito esforço, ainda lutamos para reverter.

Quase não dormi. E quase ainda não desperto, me vejo aqui, com um gosto de desgosto atravessado na boca, sem clima para qualquer forma de regozijo, e menos ainda para a leveza. É tempo de fúria. Fúria sem som.

Durante a madrugada, tentei dormir, mas em vão. A cada meia hora, meu eficiente mecanismo de indignação me arrancava do sono com imagens grotescamente surreais. Em repetidas ocasiões, sonhei com uma peruca voadora, semelhante a um guaxinim, que arrastava sob si um corpo paramentado com camisa de futebol e chuteiras. Na cena, o sujeito amortecia uma bola no peito, embora não fosse a bola de Zé Dirceu. A insistência daquela imagem, que se repetia com nitidez obsessiva, não deixava espaço para dúvidas: tratava-se da peruca do Fux.

Fácil de identificar, Fux é um tipo peculiar de peruca. Mesmo quando fixada com Corega, ela permanece frouxa sobre o cocuruto, inclinada de forma persistente, sempre para o mesmo lado, para um único lado: o dos interesses do lobby sionista. Quer chova, quer faça sol, ainda que desabe o dilúvio ou se anuncie o mais luminoso arco-íris, a peruca jamais altera sua direção. O homem pode, se necessário, abandonar um amigo, um filho, um companheiro de lutas à beira da estrada; o sionismo, entretanto, ele não abandona. Em hipótese alguma.

Engana-se quem presume que essa fidelidade irrestrita decorra de sua origem judaica — nada mais distante da realidade. Fux sabe — assim como também sabe Netanyahu, e inclusive aquela tia pentecostal do WhatsApp que se julga especialista em Velho Testamento, sabe — que judaísmo e sionismo são entidades distintas. O sionismo apenas instrumentaliza o judaísmo, valendo-se dele como biombo ideológico, uma espécie de cortina de fumaça destinada a ocultar a brutalidade de seus crimes, crimes sionistas, cometidos em série ao longo de um centenário.

Como a história conta, mostra, demonstra, prova e comprova, o sionismo é, em essência, business puro. “Dinheiro acima de tudo. Grana acima de todos.”
É a mais bem-sucedida fusão entre ideologia e capital já concebida. Ao contrário do fascismo, que emerge como resposta às crises internas do capitalismo, o sionismo se apresenta como o próprio capitalismo em sua forma mais crua, persistente, violenta, brutal e rentável — altamente rentável.

Também não é por puro bolsonarismo que Fux tentou livrar a cara do delinquente. É sabido que Fux é bolsonarista; talvez tenha sido bolsonarista antes mesmo de Bolsonaro — um bolsonarista avant la lettre. No entanto, sua defesa recente e apaixonada do miliciano não nasce de simpatias ideológicas, mas deu-se, antes, por lealdade sionista.

Fux tornou-se, por razões que me escapam, e que certamente não dizem respeito a dinheiro, não apenas refém, mas também cúmplice do sionismo à brasileira. Sua trajetória institucional deixa isso evidente, pois, sempre que o interesse sionista se viu ameaçado, Fux se apresentou como fiador jurídico da causa.

Não sou jurista, mas arrisco afirmar que alguma entidade pública, entre aquelas poucas que ainda resistem, deveria requerer sua suspeição em todo e qualquer processo que envolva, direta ou indiretamente, o sionismo. O mínimo que se exige de um juiz é a imparcialidade; no entanto, o que se observa em Fux é uma conexão visceral, um vínculo fixo com o eixo Tel Aviv–Washington, que molda, de maneira nauseabundamente repetitiva, sua atuação.

Especificamente, no julgamento de ontem, é preciso ter claro que o sionismo não se moveu para defender o delinquente Bolsonaro. A motivação foi outra. O sionismo precisa da manutenção do bolsonarismo como força viva, necessita de sua histeria, brutalidade e fanatismo cego. Requer a idiotia violenta que se curva ao sermão do pastor argentário. O sionismo apoia-se na indigência moral do bolsonarismo para funcionar como escudo local ao genocídio em curso em Gaza. Fazem dos bolsonaristas soldados remotos do exército israelense, fornecendo o respaldo político necessário à limpeza étnica que devora os palestinos. Na prática, são uma milícia de guardas voluntários do campo de concentração de Gaza, dispostos a lançar crianças vivas na fogueira do holocausto palestino. O bolsonarismo, que já sacrificou seus próprios parentes durante a pandemia, encontra-se devidamente treinado e embrutecido para continuar explodindo vidas humanas, convencido de que assim antecipa a volta triunfal do Cristo.

O papel de Fux nesse tabuleiro sangrento, ainda que não intencional, sustenta a vitalidade do bolsonarismo radical, convertendo-o em exército involuntário do nazissionismo de Netanyahu. Sua atuação mantém viva a chama da barbárie, assegura que o Supremo não interfira, que as instituições se curvem, e que o Estado brasileiro, mesmo a contragosto, permaneça funcional à engrenagem do extermínio. Exerce tal função com esmero — quase com devoção. Pergunta-se, no entanto: por que razão? O que o impele a ser cúmplice do episódio mais cruel da história contemporânea?

Antes que me acusem de ser um terrorista da reputação alheia, cumpre esclarecer que não se trata, neste caso, de demonizar Fux, muito menos de desumanizá-lo. Ao contrário, a intenção é conferir-lhe o direito estrito ao humanismo que leva qualquer ser humano a cometer equívocos danosos a outrem, mas que podem, pela parte interessada, ser objeto de reflexão e revisão. Ninguém está irremediavelmente condenado a ser mau ou a praticar o mal.

Não sei o que se passa no coração de Luiz Fux, e sei ainda menos o que repousa sob sua peruca. Entretanto, algo ali, entre os fios artificiais e o couro cabeludo, parece enraizado numa lógica infernal. Os pensamentos e sentimentos que dali emanam não pertencem a um corpo são. Parecem acorrentados ao seu ser como uma tornozeleira eletrônica, cujo mapa do GPS acoplado está programado para um único destino: o inferno.

Que Fux caminhe por esse mapa com passos firmes, com toga e peruca, é um problema que lhe pertence. Contudo, o que não se pode aceitar é que suas decisões nos arrastem a todos para uma cumplicidade silenciosa com a máquina de extermínio israelense, cuja engrenagem se move a serviço do projeto sionista. Isso, definitivamente, Fux não tem o direito de fazer conosco.

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