O ursinho togado

Edward Magro | 29/09/2025 A entrevista concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso à jornalista Mônica Bergamo, publicada ontem na Folha de S.Paulo, é, em tudo, ternura e delicadeza. Cada pergunta, um desvelar amoroso; cada resposta, um afago; cada observação, um chazinho de camomila com mel de jataí; cada recordação, um algodão-doce derretendo lentamente na boca. Nada mais apropriado do que descrevê-la como a coisa mais fofa do mundo. Entrevista-fofucha. Talvez esteja aí o problema. Porque, entre tantos diminutivos açucarados, a aura de candura do ministro revela menos inocência do que se imagina, e bem mais cálculo do que a aparência…

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Bananinha, líder da minoria na caverna de Ali Babá

Edward Magro | 17/09/2025 Os portais hoje exibem o crime cometido ontem pela Câmara. Não foi propriamente uma sessão legislativa, mas uma assembleia na caverna de Ali Babá, onde quarenta, ou talvez mais, ladrões redefiniram as regras do jogo e resolveram legislar sobre sua própria impunidade, decidindo como não julgar e como não punir criminosos travestidos de parlamentares. Inventaram uma espécie de autoanistia preventiva, cuidadosamente redigida para assegurar que criminosos de paletó e gravata continuem frequentando o plenário em vez de celas. Nessa Câmara bolsonarista, no pós-Arthur Lira, a criminalidade política alcançou proporções tais que, se nos permitirmos uma comparação…

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Celebrar a morte de fascista é dar vida ao fascismo

Edward Magro | 15/09/2025 Neste fim de semana, num misto de autoflagelação e crueldade contra mim mesmo, decidi assistir a alguns vídeos do recém-assassinado Charlie Kirk. Do que vi e ouvi, mesmo que esgotasse todos os adjetivos pejorativos do Aurélio, mesmo que os dispusesse em fila indiana, um a um, como cadáveres num cortejo malcheiroso, ainda assim a enumeração seria insuficiente para descrever sua hedionda e repulsiva figura. Sua performance, em essência, é a maldade humana transformada em espetáculo, a perversão condensada na figura de um influenciador fascista típico. E, no entanto, mesmo diante de alguém tão repugnante, não encontro…

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O intestino-voto de Fux

Edward Magro | 11/09/2025 Na sessão de terça-feira, Luiz Fux fez questão de tumultuar a discussão sobre apartes. Criou mal-estar na sessão, afirmando que havia sido combinado que não haveria interrupções nos votos. Apesar de ter virado chacota e combustível para uma explosão de memes, aquele siricotico não foi um capricho qualquer: queria garantir para si o direito de ocupar, no dia seguinte, todo o tempo necessário da reunião para recitar seu discurso histórico em defesa do golpe de Estado. O surto da terça rendeu a Fux, na quarta, onze horas — onze intermináveis e nauseantes horas — como se…

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