Gesto é poder

Edward Magro | 26/10/2025 A respeito da reunião bilateral, atrevo-me, talvez com certa imprudência, a interpretar o encontro entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, hoje em Kuala Lumpur, não pela política, cujo conteúdo permanecerá envolto em reserva diplomática, mas pela semiótica, mais precisamente pela imagética — esse território em que os corpos revelam o que as palavras preferem omitir. No vídeo da conferência pré-reunião reservada, o essencial não está no que se diz, mas no que se move e, sobretudo, em como se move. O que se viu ali não foi propriamente uma conversa entre chefes de…

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A peleja de Lula com Trump

Edward Magro | 23/10/2025 Durante toda a semana, diplomatas, analistas, jornalistas e palpiteiros curiosos, como eu, se ocuparam da antes improvável, hoje muito provável, reunião entre Lula e Trump, à margem da 47ª Cúpula da ASEAN, em Kuala Lumpur. À mesa, que no protocolo se chamará “encontro bilateral”, serão servidos dois únicos pratos. O Brasil busca o fim das taxações que encarecem suas exportações; os Estados Unidos, como de costume, pretendem conter a influência chinesa sobre o continente sul-americano — e, para isso, veem o Brasil como o troféu que ainda lhes falta na cristaleira da hegemonia. É um banquete…

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O descanso do guerreiro de toga

Edward Magro | 10/10/2025 Talvez nem todos se deem conta, mas o Brasil experimenta, hoje, um raro alívio, daqueles que chegam quando o ar se torna, enfim, respirável e a claridade da manhã devolve alguma gentileza ao mundo. São, por assim dizer, as águas de março encerrando o verão.A boa nova é o anúncio da aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso, feita entre lágrimas, afetações, soluços discretos e autoelogios nada discretos, vertidos em metáforas nem sempre contidas. É um dia a ser comemorado. O país, cansado de eloquências togadas, iluminismos de auditório e de suas digressões poético-musicais nas redes sociais,…

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O ursinho togado

Edward Magro | 29/09/2025 A entrevista concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso à jornalista Mônica Bergamo, publicada ontem na Folha de S.Paulo, é, em tudo, ternura e delicadeza. Cada pergunta, um desvelar amoroso; cada resposta, um afago; cada observação, um chazinho de camomila com mel de jataí; cada recordação, um algodão-doce derretendo lentamente na boca. Nada mais apropriado do que descrevê-la como a coisa mais fofa do mundo. Entrevista-fofucha. Talvez esteja aí o problema. Porque, entre tantos diminutivos açucarados, a aura de candura do ministro revela menos inocência do que se imagina, e bem mais cálculo do que a aparência…

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